Deixe nascer a mãe que há em você!

Deixe nascer a mãe que há em você!

Nasceu! Que bom, que alegria. Primeiras vacinas. Hormônios em ebulição. Meu bebê chorou (de sair lágrimas) pela primeira vez. Ele parou de chorar, mas eu continuei. Chegou a noite e eu ainda estava chorando. E as lágrimas foram minhas companheiras desde o dia que a placenta nasceu. Uma mistura quase que esquizofrênica de sentimentos que me deixava altamente vulnerável. Os 10 primeiros dias foram assim. E depois disso, um pouco de ordem, mas nada muito expressivo.

Lembro-me de algumas decisões que foram fundamentais para este primeiro momento: queríamos ficar sozinhos com o Tomé. Alguns nos achavam prepotentes, outros loucos, outros… Sei lá. Não me importei, o que me interessava naquele momento era ouvir, ler, conhecer o meu filho. E por mais que me trouxesse confiança a presença de pessoas queridas, eu precisava estar a sós com ele. Nós, eu e o Camilo, precisávamos. Eu precisava deixar nascer a mãe que havia em mim: precisava dar o banho, o peito, trocar a fralda. Quis espaço para conhecer meu marido como pai. Queríamos errar, acertar, ser pais. Eu precisava chorar no colo do Camilo sem ouvir nenhum “bom conselho” do tipo: não chore, seu filho é lindo. (Desculpem, mas não tem coisa pior para se dizer a uma puérpera).

MR_Tomé

Eu queria descobrir a livre demanda sem ouvir que meu bebê ficaria “viciado em peito”, queria aquecer seus primeiros dias de vida com o maior amor do mundo. Eu queria ser acordada de madrugada. Eu quis dar tudo, o melhor, toda aquela explosão de vida que acontecera no parto: eu queria tudo para ele! Foi ocitocina demais, minha gente. (Armaria!) Até hoje eu suspiro.

Luto

Precisei chorar, naqueles primeiros dias, a morte daquela que havia em mim antes do Tomé nascer. Precisava me despedir, calmamente, lentamente…E eu não queria explicar. Precisava deixar partir e acolher o início de um processo (ainda em curso) de reconciliação com a minha maternidade, comigo mesma. Talvez tudo isso pareça um pouco subjetivo, mas não é. É absolutamente real. Precisei me olhar no espelho, inchada, diferente, marcada, ferida, nova, mulher, mãe, inteira. Precisei assumir meus mamilos feridos, meus seios grandes e cheios de leite, minha pobreza: eu não posso tudo, mas eu tenho o Tudo. Tenho a Deus. Nem seguindo todos os protocolos, tudo sairia redondinho, sem falhas. Precisei me encontrar com a morte e com a vida, entrar na dinâmica de lidar com as próprias frustrações. A partir daquele maravilhoso dia, a jornalista que vivia fazendo listas, anotações e estava constantemente antenada precisava parar um pouco (e certamente viver um ritmo novo dali para sempre). Não era mais para mim, era para nós.

E passou… Logo as janelas e as portas se abriram, o sol entrou, as coisas começaram a encontrar seus lugares. Tomé continuava crescendo saudável, encarando as lutas necessárias para se safar neste mundo bonito que Deus criou. Aprendi muito! Mas sabia que estava só começando.

Para finalizar, um trecho muito caro da Carta de João Paulo II às mulheres (1995), que me ajuda muito a viver com gratidão cada bênção e desafio que esta maravilhosa jornada me oferece.

“Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que te torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que te faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida.

Obrigado a ti, mulher-esposa, que unes irrevogavelmente o teu destino ao de um homem, numa relação de recíproco dom, ao serviço da comunhão e da vida.

Obrigado a ti, mulher-filha e mulher-irmã, que levas ao núcleo familiar, e depois à inteira vida social, as riquezas da tua sensibilidade, da tua intuição, da tua generosidade e da tua constância.

Obrigado a ti, mulher-trabalhadora, empenhada em todos os âmbitos da vida social, econômica, cultural, artística, política, pela contribuição indispensável que dás à elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, a uma concepção da vida sempre aberta ao sentido do « mistério », à edificação de estruturas econômicas e políticas mais ricas de humanidade.

Obrigado a ti, mulher-consagrada, que, a exemplo da maior de todas as mulheres, a Mãe de Cristo, Verbo Encarnado, te abres com docilidade e fidelidade ao amor de Deus, ajudando a Igreja e a humanidade inteira a viver para com Deus uma resposta « esponsal », que exprime maravilhosamente a comunhão que Ele quer estabelecer com a sua criatura.

Obrigado a ti, mulher, pelo simples facto de seres mulher! Com a percepção que é própria da tua feminilidade, enriqueces a compreensão do mundo e contribuis para a verdade plena das relações humanas. ”

Até a próxima!

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